Mesmo sabendo
que a greve é um direito assegurado aos trabalhadores - dentre os quais os servidores
públicos, garantidos pela Constituição Federal, e confirmado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), cientes também que os professores em estágio probatório e os da
Categoria “O” também usufruem desse mesmo direito, que a
exemplo dos demais, não podem ser penalizados por conta da paralisação das
atividades apesar de informados de tudo isso, os professores não
atenderam o chamado do sindicato e a greve “não virou”!
Essa
dura realidade, nós, do Movimento de Educadores Organizados pela Base – MEOB, já
havíamos comprovado em nossas andanças pelas escolas da zona sul da cidade de
São Paulo. Antes do dia 08
-04-13, data do RE que votou a organização da greve, fez um trabalho de visitas
a 45% das escolas da região Apeoesp Sul Santo Amaro para discutir com os
professores o ânimo e perspectivas para o início da greve e assim levar ao RE
os dados reais da categoria.
O resultado desse trabalho foi o mesmo observado no
maior RE da categoria (mais de 110 escolas representadas, com 200
representantes sindicais em média), nesse dia existia uma indignação na categoria, os
professores que lutam em suas escolas por questões que lhe são caras e locais
(contra o assédio moral, contra as intempéries do dia-a-dia na sala de aula),
deixavam transparecer que não se
dispunham naquele momento acatar um
chamado do sindicato para a greve.
Diante desses fatos reais, o MEOB, já no RE
regional, colocou sua posição CONTRA A AGENDA E O CALENDÁRIO PROPOSTO PELA
DIRETORIA DO SINDICATO, apresentando uma OUTRA PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO da
categoria no preparo para a mobilização nas escolas, a saber: organização dos
professores nas escolas, principalmente nos HTPCs, organização dos alunos
nos grêmios estudantis e na escola, organização dos pais ,abaixo assinados e
carta aberta, atos regionais, assembleias regionais, paralisações com
assembleias estaduais durante o processo de negociação até que o processo de
mobilização tivesse sua materialidade real no “chão de giz”, objetivando uma
greve de massa.
Na primeira assembleia estadual de 15-04-13 essa
proposta (a de um outro calendário) também foi defendida pela Oposição
Alternativa na sua maioria, porém foi vencida pela proposta da articulação e
pela assembleia que se seguiu no dia 19-04-13. Até essa assembleia o MEOB
continuou seu trabalho de discussão e organização do movimento nas escolas,
apesar de nosso chamado à greve, continuávamos a verificar a indisposição da
categoria em aderir o movimento que se acentuou e confirmou com mais 25% de
escolas visitadas na região, era também o que apontavam os informes de várias
regiões do estado.
Esses informes reais confirmaram a posição inicial
do MEOB para a defesa do calendário e agenda proposta inicialmente, proposta
que foi defendida no CRE do dia 19-04-13, com a autorização dos demais grupos
da Oposição Alternativa para declaração
dessa posição.
Acreditávamos e continuamos a acreditar que a greve
deve ser organizada COM a categoria e não PARA a categoria, pois uma greve onde
apenas a VANGUARDA se mobiliza e a maior
parte da categoria continua “dentro das escolas” demonstra que é impossível
sustentar-se por tempo indeterminado e pior pode levar a vanguarda a
sacrifícios, muitas vezes sem negociações e conquistas a contento. Apesar dessa
posição o MEOB acatou a assembleia e saiu na greve (organizando vários comandos
de greve) para a organização e discussão nas escolas.
Fizemos visitas, participamos de atos, de HTPCs, de
reuniões locais e regionais, que nos
aproximaram ainda mais da realidade que defendíamos, portanto os professores
cobrava-nos “os porquês” da tamanha desorganização do movimento por parte da direção
majoritária. Resultado: a maioria dos professores não aderiam a greve.
Esse fato se confirmou quando os
professores participaram das assembleias (quando da adesão), para verificarem
as discussões, os resultados das negociações e o aumento ou a diminuição da
adesão à greve, posteriormente voltavam para suas escolas para
discutir a organização no local de trabalho.
Poucas escolas paralisaram
totalmente suas atividades por toda a greve, algumas iniciaram uma mobilização
no início do processo, outras no meio, quando as do início já estavam voltando
para as atividades, demonstrando a dificuldade da mobilização e ratificando que
a falta de uma agenda organizada pode levar a uma divisão dos trabalhadores ao
invés da união para a luta, dentro da própria escola.
O MEOB em seus comandos discutiu
essa contradição, mobilizava para a greve, quando havia a negativa ou a
rejeição da greve discutimos as ações efetivas dentro das escolas, além da
discussão do PNE (interesse grande da categoria para a ordem do dia), debatemos
“ a escola que temos” versus “a escola que queremos”, nesse ínterim organizamos
várias escolas, algumas “saíram períodos inteiros em greve” outras foram mobilizadas parcialmente.
"O projeto de greve da Artsind/CSC
estava claro: a-) fazer uma greve sem organização ; b-) Usar a greve para
interesses eleitorais do PT. Desgastando o PSDB para fortalecer a alternativa
PT em 2014 ; c-) Impedir que a nova leva
de ativistas terminasse seu processo de formação antes de uma ação efetiva
(discussão organizativa nas escolas); d-) fazer a disputa eleitoral do
sindicato em um clima " frio "; isto é ; uma campanha salarial sem
possiblidade de ter lutas. Campanhas consequentes às derrotas refletem o clima
da derrota anterior ;e-) desorganizar a oposição, pois a maioria dos ativistas
que surgiram são da capital e grande São Paulo ( Categoria “O”), observados nas
assembleias. Portanto quando os que se iniciam na luta, são derrotados se viram
contra o sindicato.
Nesse contexto, percebemos que existe
uma aversão da categoria quanto a apropriação do sindicato pelos partidos políticos. Ouvimos essa preocupação
em muitas escolas, muitos professores se mostraram apreensivos e com receio de
serem usados como “massa de manobra” pelos partidos. Notamos também a preocupação dos professores
com o uso desses partidos para “ganho político partidário”, e/ou do uso do
sindicato como trampolim para suas ações ou mesmo uso burocrático do mesmo.
Nós, do MEOB, também temos essa preocupação e consideramos o sindicato uma
ferramenta importante e necessária na organização e luta do trabalhadores, livre e autônoma de partidos, patrões e
governos.
As assembleias seguintes 26-04-13, 03-04-13
confirmaram o que o chão de giz nos dizia todos os dias, reforçando nossa
percepção inicial, a desmobilização e o movimento em direção a uma greve de
vanguarda. Apesar da decepção, do não crescimento da mobilização, sempre
levamos os informes reais da luta e cobramos os outros grupos, também informes reais, que não
foram dados, tradição esquecida pelo conjunto das correntes políticas.
A categoria atenta, observando
essas contradições, continuou sem ânimo para a greve, porém
percebemos sua disposição à discussão para uma OUTRA organização. Resultado:
não aderiu em massa à greve.
No CRE do dia 10-04-13, o MEOB
colocou sua posição quanto a importância das ações diante dessa situação. Pelos
dados reais, alertamos para o erro de se insistir em uma greve de vanguarda e o
acerto não simplesmente em suspendê-la, mas sim continuar mobilizando a
categoria para se tentar uma greve mais forte e de massas num momento futuro,
ano que vem , por exemplo. É sabido que em época de eleições os governos são
mais sensíveis às mobilizações das massas.
O cuidado em manter a categoria
junto na luta e seguir mobilizando até encontrarmos as condições necessárias
para negociações concretas do governo é tarefa do “general” que está no comando
de uma “batalha” e recuar diante da realidade é muitas vezes ganhar e preservar
o exército para outros enfrentamentos, ver a realidade e dizer para a categoria
essa verdade é um dever, defendeu o MEOB no CRE do dia 10-03-13.
A
assembleia que ocorreu após esse CRE e suspendeu a greve demonstrou todas
nossas preocupações. Foi um momento extremamente difícil. Parte dos professores
que queriam manter a greve, insuflados por correntes
sindicais e alguns partidos políticos sem compromisso com a categoria, tiveram uma atitude completamente equivocada. Sem
entrar no mérito da possível “fraude” do resultado da assembleia, pois a
decisão já foi tomada, acreditamos que não é correto tentar agredir quem quer
que seja. A saída, entre os trabalhadores, é sempre a luta política e nunca a
agressão a física. O restante da categoria, presente na assembleia ou não,
refuta esse tipo de atitude: não concorda que a direção não respeite as
decisões de instância e ao mesmo tempo também rejeitam respostas que incluem
agressões, gritos e coisas desse tipo.
O
resultado das negociações demonstra que mesmo uma greve fraca é capaz de
pequenas conquistas, porém importantes, em especial os companheiros Categoria
“O”. Nesse sentido o MEOB reafirma que sempre a luta vale a pena. Ou seja, Só luta muda a vida!
As
pequenas conquistas que arrancamos na greve devem ser valorizadas e ao mesmo
tempo as lições dessa greve devem ser apreendidas: greve forte é greve bem
organizada. Portanto, o MEOB mantém o chamado para que a categoria que agora
volte suas energias para organizar as unidade escolares. Organizando o Conselho
de Escola, os Grêmios Livres, HTPCs ( resistimos ao “ATPC”) e tendo uma relação
permanente com os pais e comunidade buscando construir a escola pública que
sempre sonhamos.
Fonte: MEOB - Movimento Educadores Organizados pela Base - Somos professores da zona sul da cidade de São Paulo, organizados na Oposição Alternativa da Apeoesp, na luta por uma escola pública de qualidade para os trabalhadores; por uma prática sindical com independência de classe, combativa e alicerçada na ação dos trabalhadores organizados em seu local de trabalho.
Participe conosco da construção da escola pública
que queremos. Sugira, critique, opine. Organize sua escola, traga propostas e ideias.
Nossos Contatos :
E-mail: educadores.organizadospelabase@gmail.com
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