terça-feira, 21 de maio de 2013

Reflexões sobre a greve dos professores da rede estadual de São Paulo de 2013


Razões para greve não nos faltavam: salários defasados ou atrasados (meses sem receber), muitos deveres e poucos direitos (categoria “O”), precarização, divisão em categorias, péssimas condições de trabalho, salas superlotadas, estrutura precária, aumento do adoecimento na profissão, falta de materiais, violência fora e dentro da escola, assédio moral, entre outros problemas.
Mesmo sabendo que a greve é um direito assegurado aos trabalhadores - dentre os quais os servidores públicos, garantidos pela Constituição Federal, e confirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), cientes também que os professores em estágio probatório e os da Categoria “O” também usufruem desse mesmo direito,  que  a exemplo dos demais, não podem ser penalizados por conta da paralisação das atividades  apesar de  informados de tudo isso, os professores não atenderam o chamado do sindicato e a greve  “não virou”!
Essa dura realidade, nós, do Movimento de Educadores Organizados pela Base – MEOB, já havíamos comprovado em nossas andanças pelas escolas da zona sul da cidade de São Paulo.  Antes do dia 08 -04-13, data do RE que votou a organização da greve, fez um trabalho de visitas a 45% das escolas da região Apeoesp Sul Santo Amaro para discutir com os professores o ânimo e perspectivas para o início da greve e assim levar ao RE os dados reais da categoria.
O resultado desse trabalho foi o mesmo observado no maior RE da categoria (mais de 110 escolas representadas, com  200 representantes sindicais em média),  nesse dia  existia uma indignação na categoria, os professores que lutam em suas escolas por questões que lhe são caras e locais (contra o assédio moral, contra as intempéries do dia-a-dia na sala de aula), deixavam  transparecer que não se dispunham naquele momento  acatar um chamado do sindicato para a greve.
Diante desses fatos reais, o MEOB, já no RE regional, colocou sua posição CONTRA A AGENDA E O CALENDÁRIO PROPOSTO PELA DIRETORIA DO SINDICATO, apresentando uma OUTRA PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO da categoria no preparo para a mobilização nas escolas, a saber: organização dos professores nas escolas,  principalmente nos HTPCs, organização dos alunos nos grêmios estudantis e na escola, organização dos pais ,abaixo assinados e carta aberta, atos regionais, assembleias regionais, paralisações com assembleias estaduais durante o processo de negociação até que o processo de mobilização tivesse sua materialidade real no “chão de giz”, objetivando uma greve de massa.
Na primeira assembleia estadual de 15-04-13 essa proposta (a de um outro calendário) também foi defendida pela Oposição Alternativa na sua maioria, porém foi vencida pela proposta da articulação e pela assembleia que se seguiu no dia 19-04-13. Até essa assembleia o MEOB continuou seu trabalho de discussão e organização do movimento nas escolas, apesar de nosso chamado à greve, continuávamos a verificar a indisposição da categoria em aderir o movimento que se acentuou e confirmou com mais 25% de escolas visitadas na região, era também o que apontavam os informes de várias regiões do estado.
Esses informes reais confirmaram a posição inicial do MEOB para a defesa do calendário e agenda proposta inicialmente, proposta que foi defendida no CRE do dia 19-04-13, com a autorização dos demais grupos da  Oposição Alternativa para declaração dessa posição.
Acreditávamos e continuamos a acreditar que a greve deve ser organizada COM a categoria e não PARA a categoria, pois uma greve onde apenas a VANGUARDA  se mobiliza e a maior parte da categoria continua “dentro das escolas” demonstra que é impossível sustentar-se por tempo indeterminado e pior pode levar a vanguarda a sacrifícios, muitas vezes sem negociações e conquistas a contento. Apesar dessa posição o MEOB acatou a assembleia e saiu na greve (organizando vários comandos de greve) para a organização e discussão nas escolas.

Fizemos visitas, participamos de atos, de HTPCs, de reuniões locais e regionais, que  nos aproximaram ainda mais da realidade que defendíamos, portanto os professores cobrava-nos “os porquês” da tamanha desorganização do movimento por parte da direção majoritária. Resultado: a maioria dos professores não aderiam a greve. 
Esse fato se confirmou quando os professores participaram das assembleias (quando da adesão), para verificarem as discussões, os resultados das negociações e o aumento ou a diminuição da adesão à greve, posteriormente voltavam  para suas escolas para discutir a organização no local de trabalho.
Poucas escolas paralisaram totalmente suas atividades por toda a greve, algumas iniciaram uma mobilização no início do processo, outras no meio, quando as do início já estavam voltando para as atividades, demonstrando a dificuldade da mobilização e ratificando que a falta de uma agenda organizada pode levar a uma divisão dos trabalhadores ao invés da união para a luta, dentro da própria escola.
O MEOB em seus comandos discutiu essa contradição, mobilizava para a greve, quando havia a negativa ou a rejeição da greve discutimos as ações efetivas dentro das escolas, além da discussão do PNE (interesse grande da categoria para a ordem do dia), debatemos “ a escola que temos” versus “a escola que queremos”, nesse ínterim organizamos várias escolas, algumas “saíram períodos inteiros em greve” outras  foram mobilizadas parcialmente.
"O projeto de greve da Artsind/CSC estava claro: a-) fazer uma greve sem organização ; b-) Usar a greve para interesses eleitorais do PT. Desgastando o PSDB para fortalecer a alternativa PT em 2014 ; c-) Impedir que a nova  leva de ativistas terminasse seu processo de formação antes de uma ação efetiva (discussão organizativa nas escolas); d-) fazer a disputa eleitoral do sindicato em um clima " frio "; isto é ; uma campanha salarial sem possiblidade de ter lutas. Campanhas consequentes às derrotas refletem o clima da derrota anterior ;e-) desorganizar a oposição, pois a maioria dos ativistas que surgiram são da capital e grande São Paulo ( Categoria “O”), observados nas assembleias. Portanto quando os que se iniciam na luta, são derrotados se viram contra o sindicato.
Nesse contexto, percebemos que existe uma aversão da categoria quanto a apropriação do sindicato pelos  partidos políticos. Ouvimos essa preocupação em muitas escolas, muitos professores se mostraram apreensivos e com receio de serem usados como “massa de manobra” pelos partidos.  Notamos também a preocupação dos professores com o uso desses partidos para “ganho político partidário”, e/ou do uso do sindicato como trampolim para suas ações ou mesmo uso burocrático do mesmo. Nós, do MEOB, também temos essa preocupação e consideramos o sindicato uma ferramenta importante e necessária na organização e luta do trabalhadores,  livre e autônoma de partidos, patrões e governos.
As assembleias seguintes 26-04-13, 03-04-13 confirmaram o que o chão de giz nos dizia todos os dias, reforçando nossa percepção inicial, a desmobilização e o movimento em direção a uma greve de vanguarda. Apesar da decepção, do não crescimento da mobilização, sempre levamos os informes reais da luta e cobramos os outros grupos, também informes reais, que não foram dados, tradição esquecida pelo conjunto das correntes políticas.
A categoria atenta, observando essas contradições, continuou  sem ânimo para a greve, porém percebemos sua disposição à discussão para uma OUTRA organização. Resultado: não aderiu em massa à greve.
No CRE do dia 10-04-13, o MEOB colocou sua posição quanto a importância das ações diante dessa situação. Pelos dados reais, alertamos para o erro de se insistir em uma greve de vanguarda e o acerto não simplesmente em suspendê-la, mas sim  continuar mobilizando a categoria para se tentar uma greve mais forte e de massas num momento futuro, ano que vem , por exemplo. É sabido que em época de eleições os governos são mais sensíveis às mobilizações das massas.
O cuidado em manter a categoria junto na luta e seguir mobilizando até encontrarmos as condições necessárias para negociações concretas do governo é tarefa do “general” que está no comando de uma “batalha” e recuar diante da realidade é muitas vezes ganhar e preservar o exército para outros enfrentamentos, ver a realidade e dizer para a categoria essa verdade é um dever, defendeu o MEOB  no CRE do dia 10-03-13.
            A assembleia que ocorreu após esse CRE e suspendeu a greve demonstrou todas nossas preocupações. Foi um momento extremamente difícil. Parte dos professores que queriam manter a greve, insuflados por correntes sindicais e alguns partidos políticos sem compromisso com a categoria, tiveram uma atitude completamente equivocada. Sem entrar no mérito da possível “fraude” do resultado da assembleia, pois a decisão já foi tomada, acreditamos que não é correto tentar agredir quem quer que seja. A saída, entre os trabalhadores, é sempre a luta política e nunca a agressão a física. O restante da categoria, presente na assembleia ou não, refuta esse tipo de atitude: não concorda que a direção não respeite as decisões de instância e ao mesmo tempo também rejeitam respostas que incluem agressões, gritos e coisas desse tipo.
           O resultado das negociações demonstra que mesmo uma greve fraca é capaz de pequenas conquistas, porém importantes, em especial os companheiros Categoria “O”. Nesse sentido o MEOB reafirma que sempre a luta vale a pena. Ou seja, Só luta muda a vida!
           As pequenas conquistas que arrancamos na greve devem ser valorizadas e ao mesmo tempo as lições dessa greve devem ser apreendidas: greve forte é greve bem organizada. Portanto, o MEOB mantém o chamado para que a categoria que agora volte suas energias para organizar as unidade escolares. Organizando o Conselho de Escola, os Grêmios Livres, HTPCs ( resistimos ao “ATPC”) e tendo uma relação permanente com os pais e comunidade buscando construir a escola pública que sempre sonhamos.

Fonte: MEOB - Movimento Educadores Organizados pela Base - Somos professores da zona sul da cidade de São Paulo, organizados na Oposição Alternativa da Apeoesp, na luta por uma escola pública de qualidade para os trabalhadores; por uma prática sindical com independência de classe, combativa e alicerçada na ação dos trabalhadores organizados em seu local de trabalho.

Participe conosco da construção da escola pública que queremos. Sugira, critique, opine. Organize sua escola, traga propostas e  ideias.

Nossos Contatos :
E-mail: educadores.organizadospelabase@gmail.com

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